terça-feira, 18 de março de 2014

OLHO VIVO …

Olho vivo,                                              
bem aberto 
e altivo,
franzina, 
desafiando
seu apressado porvir. 
Menina,
botãozinho
cheio

e desperto, 
em seu ninho
a sorrir! 

Era um raminho
de seu maternal seio
acordando 
bem cedinho,
um coraçãozinho
florindo!

Depois … Riti,
toma a papinha!

Tal um passarinho,
sorrindo, 
voa do ninho
e asinha!

Isso é p’ra ti!
já sou crescidinha,
sei bem o caminho!

É agora uma Flor!
às vezes sisuda 
mas ordenada,
sonhando 
com sua verdade,
obstinada 
na sua vontade.

Nem sempre o Fado
é desventura!
E eu tenho um Amor,
bem cedo acordado,
é verdade, 
e em tempo de dor,
mas que cresceu 
e floresceu, 
um agasalho 
de ternura.

domingo, 2 de março de 2014

MÃE, TU TAMBÉM ÉS MARIA


Pequena,
franzina,
morena,
a sofrer 
desde menina,
quando a aliança
entre a fantasia
e a esperança
era ainda rainha.

Dia a dia,
dorida,
seu ser 
se doou
a gerar vida!
E sempre sorria,
contente!
Nem o tormento,
a dor
da partida
de um rebento,
lhe suavizou 
seu presente
de amor! 

Mãe, ó MÃE!
Naquele dia, 
teu rosto ameno
como um passarinho, 
sereno,
deitado,
dormia
em seu ninho
de Morte!
E sorria,
belo, delicado, 
forte!
E não compreendia
a dor
da separação,
ainda resplandecia 
numa oração
de bondade
e Amor!

MÃE!
E a saudade?

E tu, ternamente,
sorrindo:

Meu menino,
é amor
também
florindo
no teu coração
de gente,
pequenino!

A tua bondade
é infinda!
Tive tanta sorte
por seres a minha MÃE!
És tão linda!
Sempre tão forte
no Amor!

Lembras-te daquele dia
em que, alvoroçado,
te dizia,
afogueado 
de emoção?

MÃE, vou p’ra escola!

E com que alegria
me preparaste
e na minha mão
colocaste
a sacola, 
sorrindo!

Vai, pequenino,
vai indo,
vai abraçar 
teu sonho de menino,
teu desejo de saber! 
Vai rir e saltar, 
e aprender!

MÃE!
E a redacção
que me ensinavas,
enquanto cosias
e remendavas?

E a canção
que cantavas
contente 
e com doçura,
para eu dormir?

E nada pedias, 
só davas
ternura,
eternamente
a sorrir!

Ó MÃE, minha MÃE!
O teu carinho
não tem fim!
Teu ninho
só de Amor 
construído, 
com muita dor 
mas nunca vencido,
foi um Jardim
florido! 

Por isso, também
não o vencerá 
a morte,
não!
Que o amor 
é mais forte
que a dor
e o meu coração 
nem um dia
te esquecerá!

MÃE,
tu também
és MARIA!

SAUDADE


Cada vez que estou contigo, olho à minha volta, ansioso
Nestes sonhos de encontros de meiguice em noite imensa
Que me surgem em vagas alterosas de dor intensa
Onde se destaca, iluminado e belo, teu rosto tão formoso!

Ó minha MÃE, meu rosto doce, delicado e tão amigo!
Desde a aurora a embalar meu ser, sempre de amor sorrindo
Se te vejo tão sublime no meu sonho, teu rosto florindo
Pede a Deus que bem depressa me leve em suas asas ter contigo!

Mas o sonho acaba, teu rosto paira sorrindo, esvai-se e desvanece,
Dos meus braços vais fugindo, em pedacinhos, como eu, angustiada,
Fecho os olhos, penso em ti, alma pura, rosto embevecido de bondade!

O dia aclara, a alma sangra, grita e enlouquece
Sensível à dor ingente da despedida amargurada
Para mais uma tortura infinda da saudade!

Ó MONTES QUE TÃO ALTO ELEVAIS …


Ó montes que tão alto elevais
Os cumes das montanhas pedregosas
Que nem as ventanias abrigais
E encheis de gelo nossas almas dolorosas!

Se em ti eu confiava como abrigo
Das marés da vida tão ventosas
Tu me recusaste dar consolo amigo
Expondo minhas dores a invernias rigorosas!

Teu fresco ar em redemoinhos anelado
Mitigam da minha alma a amargura
Deixai-mo ao menos respirar deleitado!

E quando chegar o dia do Final Juízo
Minha alma ao Céu se eleve, fresca e pura
Para gozar da paz do Eterno Paraíso!

QUANDO ESTOU TRISTE ...

Quando estou triste, assim triste,
Afogo meu Fado em meus Fados.
Meu Fado me enjeita e resiste
Ao trinar dos acordes magoados!

É meu Fado estes meus brados 
De Saudade, meu Fado, infinda, 
Por Coimbra, nos meus Fados
A Cidade minha, linda, linda!

Ai, meu Fado, estes meus Fados,
Lamentos tristes, tristes, são Dor
Da ausência, meu Fado, do sofrer! 

E não me valem, meu Fado, os trinados
De meus Fados que cantam ao Amor,
Que estou longe, meu Fado, sem a ter!

SE AS PRIMAVERAS ME ENFEITASSEM …


Se as Primaveras me enfeitassem
Os brancos cabelos e a postura
E os verdes anos me adornassem
Nesta idade ora tão madura,

Colhia uma flor no meu jardim,
Ofertava-te meu coração numa bandeja, 
Pedia a tua mão só para mim,
Rosto lindo, lábios de cereja!

Mas foi-se embora a mocidade,
À Primavera ela disse adeus
Deixando em meu ser só a saudade

Dos jardins plantados de flores!
Suplício vero de pecados meus
Céu que não atende minhas dores!

SURGE DA ESCURIDÃO A MADRUGADA …


Surge da escuridão a madrugada, a luz do dia recomeça,
Esvai-se a longa noite esbaforida ao cantar do galo,
Irrompe nova esperança, uma esperança que eu embalo
Querendo ver-te! Uma esperança ainda só promessa!

Desabrochas, enfim, gaiata, chique, um ramo florido,
És um refulgente raio de sol brilhando numa flor
Uma vaga de doçura a rebrilhar no seu esplendor
Uma rosa que em ti encerras em um doce colorido!

E na graça de uma alegria pura, de uma margarida,
Prenhe do exalar do teu encanto a essência de jasmim,
Ao redor da mesinha do café, reina bela essa doce alegria!

Os minutos voam com tua jovialidade sã e incontida
Com tuas graças e os teus risos cristalinos para mim.
Oh! Que tão depressa se esvai o mel da tua companhia!

ENCONTRO DE AMOR


Olhar o suave rosto
Contemplá-lo docemente
Ver face ainda mais bela
Que a meus olhos foi presente!
Vi, enfim, a minha Estrela
Luar singelo de Agosto
Que ilumina a alma infinda!
E eu ali, frente a frente
Com a minha doce Cinda!

Nos seus lábios um sorriso
Luz de incenso, o paraíso!
O corar da face linda
Um desabrochar de fresca rosa
Que a manhã com sua vinda
Debruou de seda mais mimosa
Para inveja das mais flores
Numa aparência singela
Tal os anjos em seus andores!

Ligeiramente, a face triste,
Em seus olhos, sombra leve!
Mas uma rosa tão bela
Que nenhuma outra viste
Nem aproximar se atreve!

SEU ROSTO É DIAMANTE PURO …

Seu rosto é diamante puro abrindo em flor,
Seus lábios um sorriso em oferta gloriosa,
Seu coração de magia é perfume de Amor,
Sua beleza emerge da dor profunda, majestosa!

As dores da vida, covardes, se vão intrometendo
Povoando de receio vil ser humano tão bondoso!
Sua labuta, reinado de constância que, vencendo,
Torna seu ser vibrante, mais belo, mais formoso!

E por que, coração, te dás ao susto, endiabrado,
Em divino e puro peito que, arfando amoroso,
Se desfaz em suas ânsias de ardência sofredora?

Quando devias, em teu sentir puro, assossegado,
Ser prazenteiro, fiel, alegre e risonho, generoso,
Que assim to há confiado uma Vida Vencedora!

TEUS OLHOS SÃO DUAS PÉROLAS …


Teus olhos são duas pérolas verdejantes
Em teu rosto de Vénus mui charmoso
Que brilham cheios de luz, cintilantes,
Numa promessa de etéreo Amor glorioso!

Teu chapeuzinho embeleza a tua figurinha
Dão ao teu porte esbelto ar gaiato de vaidade
Tua silhueta transforma-te numa menininha
Teu sorrir e teu olhar estilizam mocidade!

Teu vestidinho rodado com seus folhos
Vaporiza tua cintura leve e mui franzina
Num ar gaiato de vera formosura

Um sonho de mulher de verdes olhos
Com rosto radiante e doce de menina
E todo o seu ser irradiando de ternura!

ROSTO DE MENINA …


Rosto de menina, meã na altura
Vestido rodado de alva imaculada
Olhos verdes, morena de figura
Gaiata e gentil, de beleza inundada

Chapeuzinho adornando a cabeça
Brilho ladino num olhar de felicidade
Face risonha de menina travessa
Donairosa no porte, elegante sem vaidade

Alma límpida, é de rosas seu perfume
Puro e casto, raiando ao sol brilhante
Uma fada nossas vidas inspirando

Eis a minha Diva que a Vénus faz ciúme
Farol do Amor, generoso diamante
Aos pés da Virgem, em devoção, orando.

ARCO-ÍRIS


Se te apanhasse um arco-íris,
Esvoaçando lá nos céus em belas cores,
Trazia-to embrulhadinho n' amizade,
Ofertava-to em brilhantes de flores,
Em sua fragrância e doce olor,
Para te lembrares, quando me vires,
O bem que merece a lealdade,
O carinho que embeleza o teu amor!

Verias enfim quão belo é,
Rir-te-ias nos momentos de tristeza,
Pois desde a abóbada ao rodapé
É todo um colorido de beleza!

Subirias sem esforço a montanha,
Gozarias lá do alto a pureza
Do sorrir brejeiro a camponesa
Que cheira a rosmaninho.
Felicidade que nos campos ela ganha
E leva para casa, pr' ó seu ninho!

Coroa na cabeça leve e pura
Lançada bem no fundo a desventura!

Tuas faces ao vento são rosadas,
Purpúreas, frescas, exalando essa verdura
Que tens no coração meigo e forte!
Vão-se daqui as peias malfadadas,
Fique teu rosto lindo de ternura
Que nem o vencerá a própria Morte!

… A MIM ME BASTA ESTA VENTURA …


Vejo esse rosto lindo
Esse rosto que não tem par
Contemplo-o de longe com enlevo
Como que guardando doce segredo
E vê no ar subindo
O encanto do seu lar.

Vejo esse olhar tocante
De um sorriso sem igual
Suave como lâmpada sagrada
Bem-vindo como a luz da madrugada
Que rompe e orienta ao navegante
Depois do temor do temporal.

Vejo esse corpo esbelto como a ave
Que parece esfumar-se num só ai
Levado com o Sol ou com a Lua
Sem encontrar beleza igual à sua
Majestoso, brilhante e suave
Que me surpreende e me atrai

Atrai e não me atrevo
A contemplá-lo assim tão bem,
Porque teu rosto espalha luz santa
Luz que me prende e me encanta
Em meiguice que eu devo
Eu, filho, à minha Santa Mãe.

Que as asas previdentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sombra pura
Pois que a mim me basta esta ventura
De ver que me consentes
Olhar o teu rosto, olhar!

MORENA, MINHA SEREIA

Morena, minha sereia, 
És como a rosa de aldeia 
Mulher mais linda não há 
Ninguém te iguala ou te imita 
Trança presa em sua fita 
Como as flores do sabiá! 

És a eterna Primavera 
Teu cabelo esvoaçando 
Enquanto ris e vais andando 
Teu rosto não é quimera 
É jovial, alegre, sincero 
É o rosto que eu quero 
No trono, doce Rainha 
Tão belo quanto as flores 
Banhadas em fresco orvalho 
Mais nenhum será assim 
Ameno no meu jardim 
Te juro, Senhora minha! 

Não és nuvem desmaiada 
Que tinge de madrugada 
Ao casto alvor da manhã 
És minha Rainha querida 
A rósea face acendida 
Vermelha como a romã 
Que espelho algum ousará 
Nem que seja impingir 
Ou desfazer doce maracujá 
De uma Rosa linda, a florir! 

TU, QUE DOS SONHOS ÉS LADRÃO …


Por que anseio querer mais se tal me basta
Depois daquele sofrimento que bem sabeis?
A Vida virou de banda, uma mãe feita madrasta,
Que vós, lamparinas de amizade, conheceis! 

Este corpo, esta Alma que aqui vedes sorridente,
É fruto de lutas sem quartel, em dificuldade superadas
Com sorriso de brandura que forcei sempre presente
Num âmago doloroso de tristezas ruins e malfadadas!

Minha Alma pequenina quanto a querendo grandiosa,
Num embaraço de situações de dor e de amargura
Na busca de canção a entes queridos, melodiosa,
Afogada em tanta lágrima de aflição e desventura!

Meu cabelo em debandada é testemunho majestoso 
De uma nova Vida aprendida numa renúncia dura,
Uma oportunidade nova num rito bem doloroso, 
Cedem-se os antigos sonhos e só a nossa fé perdura!

Ó! Quão doloroso é julgar passar de vez e perder
A nossa juventude e a nossa glória de sonho infindo!
Surge então o ânimo, a nova fortaleza do querer,
E ganha-se Vida, surge outra manhã ao Sol refulgindo! 

E as saudades de uma Vida que a dor modificou
Ficam distantes, num recanto resguardado do olhar!
Vai-se em frente numa introspectiva do que se doou,
Perdoa-se à Vida, ao Fado! Ao Amigo se reserva o amar!

Aprendendo que a Dor é da Vida a oportunidade
De desafiar a morte com que o infiel Fado desumano 
Nos pretende amesquinhar numa desonra de fatalidade,
Esse maldito jamais passará de um infiel desengano!

E apesar da crueldade indigna de surgires sem compaixão,
Não vais vencer a Felicidade do Amor e da Amizade neste Ser,
Que eu te vencerei nesta luta, tu que dos sonhos é ladrão!
E a Vitória é minha, Vencedora de ti, meu destino é VENCER!